9 de Julho: A Luta Constitucionalista Que Moldou a Identidade Paulista
- João Falanga
- 9 de jul.
- 3 min de leitura

O dia 9 de julho transcende o calendário cívico de São Paulo: é símbolo de resistência, identidade e memória coletiva. Neste artigo, resgataremos em profundidade os principais aspectos históricos, políticos e sociais da Revolução Constitucionalista de 1932 — um episódio que marcou para sempre a trajetória institucional do Brasil e a alma do povo paulista.
A Gênese da Revolução Constitucionalista
O Cenário Político de 1930 a 1932
Após a Revolução de 1930, Getúlio Vargas assumiu o poder de forma provisória, rompendo a ordem institucional então vigente. A Constituição de 1891 foi revogada, o Congresso Nacional dissolvido e os governadores estaduais substituídos por interventores nomeados diretamente pelo Executivo federal.
São Paulo, um dos centros políticos e econômicos mais influentes do país, viu-se isolado e alijado do novo arranjo de poder. A elite cafeicultora, as classes médias urbanas e setores militares paulistas passaram a exigir a restauração do Estado de Direito, com uma nova constituição e a retomada da democracia representativa.
O Estopim da Revolta: Os Mártires do MMDC
Em maio de 1932, quatro estudantes paulistas — Euclides Miragaia, Mário Martins de Almeida, Dráusio Marcondes de Souza e Antônio Camargo Andrade — foram mortos por tropas federais durante manifestações contra o governo Vargas. Esses nomes deram origem à sigla MMDC, que se tornou símbolo da causa constitucionalista e combustível moral para a insurreição.
“Esses jovens representaram a fagulha emocional que galvanizou a população paulista”, destaca o historiador Luiz Felipe de Alencastro.
A Eclosão da Revolução em 9 de Julho de 1932
Mobilização Militar e Apoio Popular
No dia 9 de julho, São Paulo declarou-se em rebelião armada contra o governo federal. Estima-se que cerca de 100 mil homens tenham sido mobilizados para o esforço de guerra — entre civis voluntários e militares.
Além dos combates armados, a mobilização também teve caráter cívico: mulheres organizavam campanhas de doação, confeccionavam uniformes, arrecadavam fundos e até doavam joias para financiar o movimento.
O Conflito: Três Meses de Resistência
Apesar da inferioridade numérica e da escassez de armamentos, os paulistas resistiram bravamente entre julho e outubro de 1932. O teatro de operações incluiu batalhas nos vales do Paraíba e do Ribeira, nas divisas com Minas Gerais e Paraná, além do litoral sul paulista.
A resistência civil também foi decisiva: campanhas como a “Ouro para o Bem de São Paulo” arrecadaram recursos e consolidaram o apoio popular. Entretanto, ao final de 87 dias, as tropas paulistas foram derrotadas militarmente.
As Consequências Políticas da Revolução
Vitória Moral e Institucional
Embora vencida no campo de batalha, a Revolução Constitucionalista obteve conquistas institucionais importantes:
Em 1933, Vargas convocou eleições para uma Assembleia Nacional Constituinte;
O Congresso foi reaberto;
Uma nova Constituição foi promulgada em 1934.
Essas concessões representaram, segundo analistas, uma vitória moral e política de São Paulo e legitimaram o levante diante da história.
O Feriado de 9 de Julho: Tradição e Identidade Paulista
Em 1997, o então governador Mário Covas oficializou o 9 de julho como feriado civil em todo o estado. A data é hoje considerada o maior símbolo da identidade paulista — celebrada com desfiles, atos cívicos, exposições e homenagens aos combatentes.
Em todo o território estadual, a interrupção de serviços públicos marca o respeito à memória histórica da Revolução. A Avenida 9 de Julho, em São Paulo, é apenas um dos inúmeros espaços públicos que eternizam esse legado.
Legados Materiais e Imateriais
Monumentos, Arquivos e Consciência Histórica
O Obelisco do Ibirapuera — maior monumento funerário do Brasil — abriga os restos mortais de heróis da Revolução, inclusive dos mártires do MMDC. Museus, arquivos estaduais e fundações preservam documentos, uniformes, armamentos e correspondências que relatam o drama vivido entre julho e outubro de 1932.
Mais do que um marco de resistência, a Revolução Constitucionalista é um exercício permanente de consciência democrática — um lembrete de que o Estado de Direito é conquista, não concessão.
Conclusão
A Revolução Constitucionalista de 1932 é um divisor de águas na história republicana brasileira. Seu impacto ultrapassou os campos de batalha e deixou raízes profundas no imaginário, na política e na cultura de São Paulo. Comemorado anualmente como feriado estadual, o 9 de julho perpetua o ideal de justiça constitucional, reafirmando o papel do povo paulista como protagonista das grandes transformações nacionais.






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