Por que a proibição da palavra ‘banco’ por fintechs é boa para o cliente
- Marília Oliveira
- há 24 minutos
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A nova regra do Banco Central do Brasil (BC) e sua lógica
No dia 28 de novembro de 2025, o BC e o Conselho Monetário Nacional (CMN) publicaram uma norma que altera a forma como instituições financeiras não autorizadas como banco se denominam. A partir de agora, empresas como fintechs, instituições de pagamento e sociedades de crédito que não têm licença bancária ficam proibidas de usar, em seus nomes, marcas, domínios ou comunicação ao público, termos como “banco” ou “bank”.
A restrição vale para todos os meios de comunicação com o público — nome empresarial, nome fantasia, website, materiais de marketing, etc.
As instituições afetadas terão até 120 dias para apresentar um plano de adequação e até um ano para completar a transição.
O BC justificou a medida dizendo que o uso inadequado da nomenclatura pode induzir os clientes a erro — levando-os a interpretar que uma fintech ou instituição de pagamento atua como banco tradicional.
O que muda de fato para fintechs e instituições de pagamento
Para empresas como fintechs ou outras instituições financeiras sem autorização formal de banco, a mudança é material. Significa que termos como “bank”, “banco”, “bancário” passam a estar vetados em seus nomes, marcas ou domínios.
Isso provavelmente implicará rebranding — alteração de nome empresarial, logomarca, domínio de internet e material de comunicação. É uma adaptação importante no plano regulatório e de marketing. As instituições precisam apresentar um plano de adequação ao BC e implementar as alterações no prazo máximo de um ano.
Parte das fintechs e instituições de tecnologia que oferecem serviços financeiros precisará reorganizar sua forma de apresentação ao público.
Por que a medida é boa para os clientes
A principal razão que torna essa norma positiva para o cliente é a clareza:
Com a proibição do uso da palavra “banco” para quem não tem licença, o cliente consegue distinguir com mais facilidade quem é um banco tradicional (com licença plena) e quem é uma fintech, instituição de pagamento ou sociedade de crédito com autorização mais restrita. Isso ajuda a reduzir confusão.
Transparência regulatória: a nomenclatura passa a refletir com precisão a natureza da instituição e os serviços que ela está autorizada a oferecer. Isso auxilia o cliente a avaliar riscos e entender melhor a qual regime regulatório a empresa está submetida.
Proteção ao consumidor: evita que consumidores sejam levados a acreditar que uma fintech, por exemplo, funciona como banco, o que poderia gerar expectativas indevidas de cobertura regulatória ou garantias que não existem.
Em resumo: a medida do BC contribui para que o cliente tenha informação mais clara e precisa sobre quem está operando sua conta, seus pagamentos, seus créditos ou investimentos — o que é essencial para segurança e consciência financeira.
Como isso impacta a percepção do sistema financeiro
Essa mudança regula a comunicação institucional e reforça a distinção entre os diferentes tipos de instituições que compõem o sistema financeiro.
O mercado ganha mais transparência institucional: se uma empresa não é um banco, ela não poderá se passar como tal. Isso ajuda a evitar “camuflagens” e abre espaço para educação financeira e regulação mais sólida.
A competição entre instituições poderá se dar de forma mais clara — sem que fintechs usem a palavra “banco” apenas como artifício de marketing. Isso pode induzir a diferenciação baseada em serviços, preço, tecnologia e experiência, e não em semântica.
A mudança pode incentivar instituições de pagamento e fintechs a serem mais honestas quanto ao seu modelo de negócio, o que em longo prazo fortalece a confiança do consumidor no sistema financeiro como um todo.
Para quem já era cliente de bancos tradicionais ou fintechs, a novidade ajuda a trazer mais clareza sobre quem está por trás da conta ou do serviço.
Mitos e preocupações — por que nem todo mundo enxerga como positivo
Nem tudo é considerado consenso. Alguns pontos de crítica ou preocupação levantados por players do setor:
Para muitas fintechs, a mudança significa custos elevados de rebranding — alteração de nome, marca, domínio, materiais etc. Para empresas menores, isso pode pesar.
Há o argumento de que a regra poderia diminuir a atratividade de fintechs e tornar a comunicação de marca mais difícil, o que poderia frear a inovação ou competitividade em relação a bancos tradicionais.
Algumas dessas empresas investiram fortemente em reputação de marca atrelada ao “conceito de banco digital”. Alterar esse posicionamento pode ter impacto em reconhecimento e fidelidade de clientes.
Apesar dessas preocupações, a visão de quem consome ou usa os serviços tende a valorizar mais a clareza institucional e a segurança jurídica/regulatória.
Considerações finais: para o cliente, a regra representa clareza e confiança
A normativa do Banco Central que proíbe fintechs e instituições não autorizadas a usar “banco/bank” em seus nomes não é uma simples formalidade — ela representa um avanço no sentido da transparência e da educação financeira. Para o cliente, fica muito mais fácil saber com quem está lidando, quais serviços a instituição está autorizada a oferecer e quais os seus limites de atuação.
Em um sistema financeiro cada vez mais fragmentado — com bancos tradicionais, bancos múltiplos, fintechs, instituições de pagamento, sociedades de crédito, correspondentes e híbridos —, identificar claramente o tipo de instituição é fundamental. Essa distinção protege o consumidor de mal-entendidos e dá mais segurança na hora de contratar um serviço financeiro.
Para o sistema como um todo, a medida fortalece a regulação, promove a concorrência leal e facilita que o varejo financeiro seja compreendido de forma mais simples.
Por isso, considero que a norma do BC representa um ganho relevante para quem usa serviços financeiros no Brasil.


