Golpes por telefone: como se proteger
- João Falanga
- há 14 minutos
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Como bancário e profissional que acompanha diariamente o aumento de tentativas de fraude contra correntistas, sinto que é meu dever repetir um aviso claro: os golpes estão cada vez mais sofisticados — especialmente os iniciados por telefone — e a melhor defesa é informação prática e ações imediatas. Neste artigo reuni dados recentes, os golpes mais comuns, sinais de alerta e um passo a passo para reagir quando alguém liga pedindo dados ou movimentação da sua conta.
O cenário — por que você deve levar isso a sério agora
Os números mais recentes mostram que as fraudes digitais e os golpes contra clientes bancários cresceram de forma expressiva nos últimos anos. Levantamentos sobre 2024 apontam que modalidades como golpe via WhatsApp, falsas vendas e falsas centrais telefônicas foram as mais reportadas pelos clientes às instituições financeiras.
Além disso, pesquisas nacionais indicam que uma parcela significativa da população foi afetada: levantamentos apontam que cerca de 24% dos brasileiros com mais de 16 anos foram vítimas de algum golpe digital no período de 12 meses, o que representa mais de 40 milhões de pessoas. Esse alcance mostra que não é um problema isolado; é um risco de massa.
Empresas de prevenção a fraudes e estudos do setor também registraram volumes enormes de tentativas: em fevereiro de 2025, por exemplo, mais de 1,1 milhão de tentativas de fraude foram identificadas e evitadas no Brasil — o equivalente a uma tentativa a cada poucos segundos. Isso indica que os golpistas operam em escala.
E os impactos financeiros são reais: análises do mercado apontaram que só na primeira metade de 2024 as tentativas de fraude somaram cerca de R$ 1,2 bilhão em perdas potenciais ou detectadas, mostrando o dano econômico que essas fraudes podem causar.
Por fim, registros de reclamação e de comunicação pelas instituições identificaram o golpe do WhatsApp como uma das abordagens mais usadas em 2024, com centenas de milhares de reclamações relacionadas a essa via de contato. Isso mostra um padrão: os golpistas priorizam canais com grande penetração (telefone, WhatsApp) e alta confiança social.
Em resumo: os golpes são numerosos, atingem milhões e têm alto impacto financeiro. Não subestime uma ligação que pareça “só mais uma”.
Os golpes por telefone e métodos relacionados mais comuns
Abaixo estão as técnicas que você precisa conhecer — não para ter medo, mas para agir com clareza:
Falsa central / falso funcionário do banco — o golpista se apresenta como funcionário, liga dizendo que há movimentação suspeita e pede códigos, tokens ou senha. Frequentemente pede também para “confirmar” um valor por SMS/WhatsApp. (muito reportado em 2024).
Golpe do WhatsApp — o criminoso clona ou finge ser um contato, pede transferências, códigos de verificação ou indica links de “confirmação” que instalam malware. Foi uma das modalidades mais denunciadas em 2024.
Smishing / SMS fraudulento — mensagens falsas que simulam avisos do banco e induzem a clicar em links que capturam credenciais. Pesquisas recentes mostram crescimento rápido nessa modalidade.
Falsas vendas e boletos adulterados — anúncio falso por telefone ou mensagem, convencendo a pessoa a pagar com boleto ou PIX para um “produto” que não existe. As falsas vendas foram muito citadas nas estatísticas do setor.
Golpe do suposto sequestro ou emergência familiar — pressão emocional para que a vítima envie dinheiro imediatamente. Usa medo e urgência para bloquear o raciocínio.
Como identificar uma ligação suspeita — sinais de alerta
Aprenda a ver as pequenas “falhas” que entregam um golpe:
Urgência e pressão: “Tem que transferir agora”, “não pode falar com ninguém”, “sua conta será bloqueada em minutos”. Golpistas usam pressão para evitar que você pense.
Pedidos de senhas, códigos ou token: nenhum banco pede sua senha completa por telefone. Nem código de validação que você recebeu por SMS/APP.
Solicitação para instalar apps ou clicar em links: instruções para instalar app, acessar link ou liberar acesso remoto são sinais de ataque.
Número mascarado ou identificação inconsistente: golpistas usam spoofing para parecerem números oficiais; se o número parecer estranho, desligue e ligue diretamente para o banco.
Inconsistência na conversação: erros de formalidade, pedido de detalhes que o banco já tem, ou fala evasiva sobre regras do banco.
Tentativa de confirmar dados pessoais que já são públicos: se o interlocutor sabe seu CPF ou endereço, pode ser porque esses dados vazaram — isso é alerta adicional.
Se alguém ligar para você: passo a passo prático
Pare e não ceda à pressão. Respire. Golpistas contam com reações imediatas.
Não forneça senhas, códigos ou números do token. Só forneça dados pessoais em canais oficiais e com autenticação por você iniciada.
Pergunte o nome, cargo e ramal. Depois desligue e ligue no número oficial do banco (não retorne para o número que ligou).
Use o app oficial do banco para checar notificações — se houver suposta “bloqueio”, o app costuma exibir alertas oficiais.
Se recebeu link por SMS/WhatsApp, NÃO abra. Apague e reporte ao banco.
Se houve transferência não autorizada, contacte o banco imediatamente e registre ocorrência policial. Quanto mais rápido, maiores as chances de bloqueio/estorno.
Registre e reporte — guarde horário, número, gravação (se possível) e comunique o banco e polícia.
O que seu banco e as autoridades estão fazendo
Bancos, federações e autoridades vêm firmando parcerias (alianças nacionais e iniciativas setoriais) para compartilhar dados, bloquear contas suspeitas e educar consumidores. As instituições também investem em detecção automatizada de tentativas de fraude e em campanhas de conscientização. Ainda assim, os números mostram que os golpes continuam em alta, o que torna a prevenção individual imprescindível.
Checklist rápido para proteger sua conta (imprima ou salve)
Nunca compartilhe senhas ou códigos recebidos por SMS/APP.
Habilite autenticação adicional (biometria e autenticação em duas etapas).
Mantenha o sistema do celular atualizado.
Não clique em links de mensagens não solicitadas.
Ative alertas por e-mail/SMS para movimentações.
Use bloqueio de tela e senha forte no aparelho.
Ao menor sinal de fraude, contate seu banco e registre ocorrência.
Boas práticas para empresas e profissionais que lidam com clientes por telefone
Se você trabalha em atendimento bancário ou tem contato com clientes:
Treine sua equipe para identificar tentativas de fraude e orientar clientes.
Nunca solicitar senhas por telefone; padronize respostas para clientes que recebam ligações suspeitas.
Divulgue canais oficiais e formas que o banco realmente usa para avisos.
Informe o cliente a não retornar através do número recebido, e sim usar os canais da instituição.
Conclusão — responsabilidade compartilhada
Os golpes por telefone e por aplicativos como WhatsApp cresceram porque combinam escala (muitos alvos) com engenharia social (confiança quebrada). As estatísticas deixam claro que muitos já foram afetados e que as tentativas continuam em ritmo acelerado. Por isso, informação e medidas simples de prevenção salvam dinheiro e tranquilidade.
Se você é bancário: continue alertando seus clientes. Se é cliente: compartilhe este artigo com familiares (especialmente idosos) e colegas. A melhor defesa é coletiva — quanto mais pessoas souberem reconhecer um golpe, menor será a vitrine de oportunidades para criminosos.
Fontes principais usadas neste artigo (resumo)
Levantamentos da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) sobre golpes mais reportados em 2024. Febraban Portal
Reportagem com dados por modalidade e número de reclamações (Agência Brasil / EBC) sobre golpes mais aplicados em 2024. Agência Brasil
Pesquisa do DataSenado apontando porcentual da população afetada por golpes digitais. Senado Federal
Indicadores da Serasa Experian sobre tentativas de fraude identificadas e evitadas em 2025. Serasa Experian
Estudo com estimativa de perdas e tentativas na primeira metade de 2024 (ClearSale / cobertura jornalística). CNN Brasil


