Cansado da Internet: fofoca inútil e torcida política viraram prato principal
- João Falanga
- 11 de set.
- 4 min de leitura

Introdução: bem-vindo ao circo
Abrir a internet em 2025 é como entrar num circo mambembe em fim de carreira: tem palhaço brigando, malabarista caindo, plateia histérica… e, claro, ninguém lembra qual era o show principal. Só que, nesse caso, o ingresso é gratuito, mas o preço é a nossa sanidade mental.
Eu entro procurando inspiração para escrever. Uma ideia instigante, um debate construtivo, uma análise que valha o tempo. O que encontro? Ex-BBB chorando porque perdeu patrocínio de shampoo, influenciador brigando porque outro roubou a publi de whey protein, político brigando porque o adversário respirou errado. É disso que estamos vivendo.
Fofoca como combustível nacional
Não me entenda mal: fofoca sempre existiu. A diferença é que antes ela ficava restrita ao boteco, à vizinha fofoqueira que olhava por cima do muro ou às páginas finais de revista. Hoje, a fofoca é plano de governo das redes sociais.
Quem seguiu quem.
Quem deixou de seguir.
Quem olhou torto em uma festa.
Quem curtiu a foto do ex do primo da subcelebridade.
É tanta profundidade que dá vontade de chamar Jacques Cousteau para explorar.
E o melhor: tem gente que dedica horas do dia para debater isso com a seriedade de um cientista da NASA. Enquanto você rala no trabalho, tem adulto de 40 anos discutindo se uma influencer realmente terminou ou se é marketing. Prioridades, né?
Política: a nova novela das nove
Quando não é fofoca, é política. Mas não política de ideias, de propostas, de transformação. Isso é chato demais. O que temos é política versão “novela mexicana”: exagerada, melodramática e previsível.
Um lado grita: “o Brasil acabou!”. O outro responde: “o Brasil nunca esteve tão bem!”. A realidade? Continua uma porcaria, mas ninguém nota, porque está ocupado demais fazendo thread no Twitter.
É como se o país tivesse virado um Big Brother Brasília: os políticos são os participantes, os eleitores são a plateia histérica, e a imprensa é o pay-per-view. Só falta votar no paredão por SMS.
Enquanto isso, educação, saúde e segurança seguem esquecidos. Mas calma, porque já já sai mais um meme com político com cara de desenho animado e todo mundo esquece.
O algoritmo: nosso dealer favorito
E não é coincidência. O algoritmo é como aquele traficante simpático: sabe o que você gosta e entrega na porta da sua casa. Você diz que quer conteúdo sério, mas o que realmente consome é fofoca e treta. O algoritmo anota: “ok, toma mais disso aí”.
É simples: uma análise sobre a crise climática vai render 200 curtidas. Mas um vídeo de dois influencers se xingando por causa de publi rende 2 milhões em meia hora. O que você acha que o algoritmo vai privilegiar? Pois é.
É a lógica do lixo: quanto mais inútil, mais aparece. Quanto mais útil, mais escondido. É como se o mundo tivesse virado uma feira em que o quiosque de pastel podre está lotado, enquanto a banca de frutas frescas está às moscas.
A normalização da burrice
O problema é que acostumamos. Ninguém mais estranha que a grande notícia do dia seja quem brigou no reality show. Ninguém se choca que uma enchente que matou dezenas receba menos atenção do que o unfollow de uma ex-BBB.
A burrice virou padrão ouro. Estamos treinando a sociedade para pensar menos a cada clique. Se Sócrates vivesse hoje, já teria tomado cicuta no primeiro cancelamento.
E se você ousa reclamar? É taxado de chato, “intelectualzinho”, ou pior: “você não entende como funciona o engajamento”. Ah, desculpa, vou já escrever sobre a unha quebrada de influencer para ser levado a sério.
Escrever no deserto
É aqui que bate o desânimo. Porque escrever exige suor. Você pesquisa, organiza ideias, revisa. Entrega algo consistente. Mas sabe o que vai bombar? Um tweet maldoso com 12 palavras.
É como tentar vender livro em um estádio cheio de gente berrando por selfie com subcelebridade. Você até consegue erguer a voz, mas o eco some em segundos.
E dá vontade de largar. Porque lutar contra esse mar de irrelevância parece remar com colher de plástico em mar revolto.
O prazer da briga
E, claro, não posso esquecer: as pessoas amam brigar. É o novo esporte olímpico. Esqueça vôlei e futebol: a modalidade oficial é discutir política no WhatsApp da família.
Tem gente que passa mais tempo defendendo político do que cuidando da própria vida. Alguns parecem advogados não remunerados de deputados. Se o político errar, eles defendem. Se o político acertar, eles batem palma como se tivessem ganho um aumento. O detalhe é que a vida deles continua igual: salário baixo, transporte ruim, saúde precária. Mas tudo bem, o importante é que “meu time” venceu o debate no Twitter.
Por que não desisto
Com tudo isso, eu deveria desistir. Mas não. Insisto. Teimosia pura. Porque se os poucos que ainda escrevem com conteúdo desistirem, o espaço vai ser 100% tomado pelo esgoto digital.
Prefiro ser minoria barulhenta do que cúmplice silencioso. Talvez meus textos não viralizem. Talvez ninguém compartilhe. Mas se uma pessoa parar para pensar, já valeu. É como jogar uma pedra no lago: o barulho pode ser pequeno, mas pelo menos não é silêncio.
O que eu queria ver online
Eu não sonho com uma internet iluminista, mas também não aceito viver em um chiqueiro digital. Queria equilíbrio. Queria que, entre uma fofoca e outra, houvesse espaço para discutir algo que realmente importa.
Queria que a gente fosse capaz de rir de memes, mas também de parar para pensar. Queria debates, não torcida. Crítica, não lacração. Propostas, não slogans vazios.
Conclusão: o banquete de lixo
A internet de hoje é como um banquete servido num lixão. Você pode até achar divertido, mas está mastigando podridão. E a cada clique, o gosto fica mais forte.
Eu, sinceramente, prefiro cuspir esse prato sujo e cozinhar algo próprio. Mesmo que pouca gente prove. Porque, no fim, prefiro ser o chato que fala a verdade do que o palhaço que faz sucesso servindo irrelevância.






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