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Analfabetismo Funcional no Brasil: O Retrocesso Alarmante que Nos Deixa Cegos


Analfabetismo Funcional

Quando pensamos em progresso, muitas vezes imaginamos avanços tecnológicos, crescimento econômico, ou talvez a expansão de direitos civis. Raramente nossa mente salta direto para o básico dos básicos: a capacidade de ler e compreender o mundo ao nosso redor.


E é exatamente nesse ponto fundamental que, para nosso profundo desalento e crescente preocupação, o Brasil parece estar engatando uma marcha à ré. Sentimos um frio na espinha ao encarar os números mais recentes, que não apenas frearam uma lenta e dolorosa trajetória de melhoria, mas parecem indicar um perigoso retrocesso. Não é um soluço temporário; a sensação é de que fomos brutalmente empurrados de volta em um caminho que julgávamos estar, ainda que aos trancos e barrancos, superando.


E lendo esta matéria do UOL - Universo Online , quase tenho certeza de que o país não vai avançar nisto:



A Sombra Espessa dos Números: Uma Pesquisa que Revela Nossa Fragilidade


Recentemente, fomos confrontados com dados que muitos de nós preferiríamos ignorar, mas que gritam a plenos pulmões sobre a realidade de nossa nação. Um estudo robusto, meticulosamente conduzido entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025, mergulhou na capacidade de leitura e compreensão de 2.554 brasileiros com idades entre 15 e 64 anos. Esse universo etário é crucial, pois abrange a vasta maioria da força de trabalho e da população economicamente ativa e potencialmente participativa na vida cívica. Os resultados?


Francamente, desoladores. A economista Ana Lima, que coordenou o estudo (Pesquisa Inaf-Indicador de Alfabetismo Funcional) e gentilmente nos compartilhou suas observações, na matéria acima, não escondeu a surpresa, e convenhamos, nem nós. A surpresa foi, nas palavras dela, "negativa". E quando uma especialista nesse campo, acostumada a lidar com as nuances e lentidões dos fenômenos sociais, se diz impactada, é porque a coisa é séria. Muito séria.


O Freio Inesperado e a Ilusão do Progresso Lento


Ana Lima expressou algo que ressoou profundamente em nós: "Fenômenos desse tipo se movem muito lentamente; não esperávamos nenhuma revolução, mas nos impactou que o freio fosse mais forte do que imaginávamos." Essa frase ecoa uma verdade cruel. A alfabetização e a superação do analfabetismo funcional são processos lentos, incrementais, que exigem investimento constante, políticas públicas robustas e um compromisso social que atravessa gerações. A expectativa era de uma melhora gradual, um passinho de formiga que, com o tempo, nos tiraria do atoleiro. Mas o que vimos não foi um passinho lento, foi um tranco brusco, um "freio" que nos jogou para trás. É como tentar escalar uma montanha íngreme e, de repente, a corda arrebenta e você desliza ladeira abaixo. A dor da queda é amplificada pela frustração de ter acreditado, mesmo que timidamente, na possibilidade de avanço.


A Miragem da Redução: Uma Análise Crítica da Trajetória Histórica


Por um tempo, pudemos nos agarrar a uma narrativa mais otimista. Desde o início da série histórica de medição do analfabetismo funcional no país, o indicador apontava, de fato, para uma redução progressiva. Uma luz tênue no fim de um túnel longo e escuro. Cada ponto percentual de queda era celebrado como uma pequena vitória contra a ignorância e a exclusão. Houve um momento, entre 2015 e 2018, em que o nível de analfabetismo funcional subiu dois pontos percentuais, atingindo 29%. Na época, esse aumento foi, de certa forma, minimizado. Considerou-se que estava dentro da margem de erro da pesquisa, que variava entre 2 e 3 pontos percentuais. Uma oscilação estatística, pensamos nós, algo a ser monitorado, mas talvez não alarmante o suficiente para soar todos os alarmes.


O Que Aprendemos (ou Não Aprendemos) com os Alertas Anteriores


Olhando em retrospecto, com a perspectiva amarga dos dados atuais, somos forçados a questionar se subestimamos aquele alerta. Será que aquele aumento de 2015-2018 não era apenas ruído estatístico, mas o primeiro sinal de rachaduras no alicerce? Talvez estivéssemos tão focados em celebrar a lenta redução que nos tornamos complacentes, incapazes de perceber os ventos contrários que já sopravam. A história, nesse sentido, parece zombar de nossa miopia. O que antes era visto como uma variação tolerável agora parece um prenúncio sombrio do que estava por vir. É como ver uma pequena trinca na parede e ignorá-la, apenas para descobrir depois que a estrutura inteira está comprometida.


 As Feridas Abertas da Pandemia na Educação Formal


Não podemos falar em retrocesso na alfabetização funcional sem encarar o elefante na sala: a pandemia de COVID-19. Seus efeitos foram devastadores em tantas frentes, e a educação, sem dúvida, foi uma das mais castigadas. De repente, milhões de estudantes foram retirados das salas de aula presenciais e empurrados para um modelo de ensino remoto para o qual o país, em sua vasta maioria, não estava preparado. Aulas online para quem tinha acesso à internet e dispositivos adequados. Apostilas impressas para quem não tinha, muitas vezes entregues com dificuldade e sem a mediação necessária. E até mesmo aulas pelo rádio em comunidades mais isoladas.


A Crueldade da Desigualdade Digital e de Recursos


Essa transição forçada escancarou e aprofundou as abissais desigualdades educacionais e socioeconômicas que já existiam em nosso país. Enquanto alguns alunos puderam manter uma rotina de estudos relativamente estável, com boa conexão e suporte familiar, outros ficaram à deriva. Famílias inteiras sem acesso à internet, sem computadores ou smartphones suficientes, em lares onde o espaço e o tempo para o estudo eram luxos inatingíveis. A figura do professor, antes presente para tirar dúvidas, motivar e adaptar o conteúdo, foi substituída, na melhor das hipóteses, por uma voz em uma tela ou instruções em um papel. Para muitos, o elo com a educação formal simplesmente se rompeu. Não é surpresa que essa ruptura tenha deixado cicatrizes profundas na capacidade de leitura e escrita.


O Silêncio Forçado dos Espaços de Letramento Informal


Mas o impacto da pandemia na alfabetização funcional vai além da escola formal. A economista Ana Lima toca em um ponto fundamental e muitas vezes subestimado: a falta de convivência em outros "espaços de letramento". Não aprendemos apenas na sala de aula. Nossa capacidade de ler, escrever e compreender o mundo é constantemente exercitada e aprimorada em nosso dia a dia, nas interações sociais mais simples e nas mais complexas. O trabalho, o mercado, o cinema – esses são apenas alguns exemplos que ela menciona, mas a lista é vasta.


Além da Sala de Aula: O Mundo Como Biblioteca e Sala de Estudo


Pensemos nisso. No trabalho, lemos e interpretamos instruções, e-mails, relatórios, manuais. No mercado, lemos rótulos de produtos, preços, promoções, receitas. No cinema ou teatro, lemos legendas, programas, críticas. Em casa, lemos bulas de remédio, contas de consumo, cartas, livros, revistas, jornais. Na rua, lemos placas de trânsito, anúncios, cartazes. Na internet, lemos de tudo um pouco, em textos de diferentes formatos e complexidades. Cada uma dessas interações exige e reforça habilidades de leitura e compreensão.


A pandemia, com seus lockdowns, distanciamento social e fechamento de estabelecimentos, silenciou muitos desses espaços. O trabalho virou remoto para alguns, mas para muitos simplesmente desapareceu, ou se tornou mais informal e menos dependente de leitura. Ir ao mercado virou uma tarefa rápida e solitária. O cinema, o teatro, os museus, as bibliotecas – todos fechados ou com acesso restrito. As interações sociais que antes nos expunham a diferentes formas de linguagem e escrita diminuíram drasticamente. É como se tivéssemos sido colocados em uma bolha de privação de estímulos de leitura, e o resultado parece ter sido, inevitavelmente, uma "oscilação para baixo nos resultados", como observa Lima. Uma atrofia sutil, porém perigosa, das habilidades que sustentam o alfabetismo funcional.


Funcional vs. Elementar vs. Consolidado: Compreendendo as Nuances Cruéis


Para entender a gravidade do aumento do analfabetismo funcional, precisamos antes de tudo compreender o que ele significa e qual a diferença para outros níveis de alfabetismo. A própria pergunta "Qual é a diferença entre alfabetismo funcional, elementar e consolidado?" é crucial e nos leva a uma distinção que, embora técnica, tem implicações sociais devastadoras. Não se trata apenas de saber desenhar letras ou juntar sílabas. Trata-se de ter a chave para decodificar o mundo.


Analfabeto Funcional: Lendo Palavras, Perdendo o Sentido


A definição que Ana Lima nos oferece para o analfabeto funcional é ao mesmo tempo clara e dolorosa: são pessoas que conseguem identificar palavras isoladas ou ler frases muito simples, mas são incapazes de ir além disso. A incapacidade de compreender, por exemplo, uma notícia de jornal é o exemplo clássico. Ela detalha: "O analfabeto funcional lê textos simples, curtos, palavras isoladas. Ele entende coisas familiares, como um recibo do mercado, resultado de jogo, receita de bolo". Parece que sabe ler, certo? Consegue decifrar alguns códigos. Mas a chave para o mundo complexo da informação e da participação social está trancada.


O Que Implica Não Ser Capaz de Interpretar o Mundo Complexo?


A explicação continua, e é aqui que a dimensão crítica se aprofunda: o analfabeto funcional "não interpreta uma tabela, um gráfico ou as nuances de uma matéria jornalística". Pense nas implicações disso. Em uma sociedade cada vez mais mediada por dados, gráficos e informações complexas, ser incapaz de interpretá-los é estar à margem. Não se pode entender um gráfico sobre a inflação, uma tabela sobre a distribuição de renda, as nuances de um debate político veiculado em um jornal sério.

Como participar plenamente da vida democrática sem compreender as informações que moldam o debate público? Como cuidar da própria saúde sem conseguir ler e interpretar uma bula de remédio complexa ou informações sobre uma doença em um folheto explicativo? Como buscar melhores oportunidades de trabalho se um currículo exige a leitura e interpretação de descrições de vagas ou a redação de um texto coeso?


Alfabetismo Elementar e Consolidado: Degraus de Compreensão


Contrastando, podemos inferir o que significam os outros níveis. O alfabetismo elementar provavelmente se situa em um nível acima do funcional. Talvez a pessoa com alfabetismo elementar consiga ler e compreender textos um pouco mais longos ou complexos que meras frases simples, mas ainda com dificuldade significativa na interpretação de informações mais abstratas, inferências ou textos com vocabulário rico ou estrutura mais elaborada.


É um passo a mais na escada, mas ainda longe do topo. Já o alfabetismo consolidado seria o nível em que a pessoa domina plenamente a leitura e a escrita, sendo capaz de ler e compreender textos de qualquer complexidade, analisar informações, tirar conclusões, argumentar por escrito e usar a leitura e a escrita como ferramentas para aprender e interagir plenamente com o mundo. É o nível que abre portas, que empodera, que permite a participação ativa e crítica na sociedade. O fato de estarmos vendo um aumento no nível mais básico de "quase-leitura" é um sinal de que a base da pirâmide do saber está ruindo.


As Consequências Sombrias de Uma Nação com Mais Analfabetos Funcionais


O aumento do analfabetismo funcional não é apenas um dado estatístico frio. Ele representa um retrocesso humano, social e econômico de proporções alarmantes. Para o indivíduo, significa ter suas oportunidades limitadas drasticamente em quase todos os aspectos da vida. É ter dificuldade em acessar serviços básicos, em entender seus direitos, em participar de forma significativa na comunidade. É ser mais vulnerável a golpes e manipulações, tanto no âmbito pessoal quanto no político.


Basta olhar a pandemia das "Bets".


Exclusão no Mercado de Trabalho e Pobreza Perpetuada


No mercado de trabalho, o analfabeto funcional enfrenta barreiras quase intransponíveis para empregos que exigem qualquer nível de leitura e interpretação. Fica restrito a trabalhos menos qualificados, com menor remuneração, em condições muitas vezes precárias. Isso perpetua ciclos de pobreza e desigualdade. Como uma família pode ascender socialmente se o chefe ou a chefe de família não consegue sequer ler um contrato de trabalho ou entender as letras miúdas de um empréstimo?


Saúde Comprometida e Cidadania Limitada


A capacidade de cuidar da própria saúde é seriamente comprometida. Informações sobre prevenção de doenças, posologia de medicamentos, resultados de exames – tudo isso exige leitura e compreensão. Uma população com altos índices de analfabetismo funcional é uma população mais doente e mais dependente do sistema de saúde, além de ter menor autonomia sobre seu próprio bem-estar. Na esfera cívica, a situação é igualmente grave. Como exercer a cidadania plena, fiscalizar o poder público, entender propostas políticas, participar de debates, se a informação está inacessível? O analfabetismo funcional é um terreno fértil para a desinformação e a manipulação, minando as bases da democracia.


O Papel Crítico das Políticas Públicas (e a Ausência Delas)


Diante desse cenário desolador, somos forçados a olhar para as políticas públicas e questionar onde falhamos. A educação, a base de tudo, tem sido tratada com a seriedade e o investimento que merece? Ou tem sido relegada a segundo plano, vítima de cortes orçamentários e descaso? O aumento do analfabetismo funcional não surge do nada; é o resultado de uma série de fatores, incluindo, sem dúvida, a falta de prioridade dada à educação básica e à alfabetização ao longo dos anos.


Investimento Contínuo vs. Projetos Intermitentes


A superação do analfabetismo funcional exige um investimento contínuo e de longo prazo em programas de alfabetização de jovens e adultos (EJA) que sejam acessíveis, de qualidade e que levem em conta as realidades e necessidades específicas desse público. Exige investimento em formação de professores, em material didático adequado, em espaços de aprendizado que vão além da sala de aula tradicional. Projetos pontuais e intermitentes não resolvem um problema estrutural. Precisamos de políticas de Estado, não de governo, que persistam apesar das mudanças políticas. Onde estão esses investimentos? Sentimos que, muitas vezes, faltam.


A Necessidade Urgente de Recuperação Pós-Pandemia


Especificamente no contexto pós-pandemia, havia uma necessidade urgente de políticas de recuperação da aprendizagem, de busca ativa por alunos que abandonaram a escola, de programas de reforço. Foram essas políticas implementadas com a escala e a eficácia necessárias? Os dados de analfabetismo funcional sugerem que a resposta é, infelizmente, não. A conta da paralisação da educação formal e da perda dos espaços de letramento informal chegou, e chegou cara.


Desafios à Frente: Uma Montanha Mais Íngreme Para Escalar


Olhar para os dados de analfabetismo funcional no Brasil em 2024-2025 é como encarar o pico de uma montanha que parecia um pouco mais baixa, e descobrir que ela cresceu. O desafio de reduzir o analfabetismo funcional, que já era imenso, tornou-se ainda maior. Não podemos nos dar ao luxo de ignorar essa realidade ou de minimizar sua gravidade. O futuro de milhões de brasileiros e o próprio futuro do país dependem de enfrentarmos esse problema de frente, com coragem e determinação.


A Sociedade Civil e o Papel de Cada Um


Embora a responsabilidade primária recaia sobre o Estado, a sociedade civil tem um papel crucial a desempenhar. Precisamos de mais iniciativas que promovam a leitura, que criem espaços de letramento em comunidades, que apoiem programas de EJA, que lutem por uma educação pública de qualidade e inclusiva para todos. Precisamos, como sociedade, valorizar a leitura e a escrita como ferramentas essenciais para a vida, e não apenas como um requisito escolar. Cada um de nós, em nosso círculo de convivência, pode fazer a diferença, seja incentivando a leitura, seja apoiando quem precisa aprender. Mas sejamos realistas: a escala do problema exige ações coordenadas e massivas do poder público.


Um Chamado à Reflexão e à Ação Urgente


Os dados são um tapa na cara. São um lembrete cruel de que o progresso social não é linear nem garantido. Pode haver retrocessos, e eles podem ser mais rápidos e devastadores do que imaginamos. O aumento do analfabetismo funcional no Brasil é um sintoma de problemas mais profundos em nossa estrutura social e educacional. É um sinal de que estamos deixando para trás uma parcela significativa de nossa população, condenando-a à exclusão e à invisibilidade. Não podemos aceitar isso.


Precisamos de um choque de realidade e de um compromisso renovado para garantir que todos os brasileiros tenham a capacidade de ler, compreender e participar plenamente da vida em sociedade. A hora é agora. O freio foi acionado, e estamos descendo a ladeira. É preciso virar o jogo antes que seja tarde demais. Em suma, a pesquisa recente sobre o analfabetismo funcional no Brasil revelou um retrocesso alarmante e inesperado, quebrando uma tendência histórica de melhora. A pandemia e a falta de acesso a espaços de letramento informais parecem ter contribuído significativamente para esse resultado negativo.


O analfabetismo funcional impede a compreensão de textos complexos, como notícias e gráficos, limitando severamente as oportunidades individuais e impactando negativamente a sociedade como um todo. É um reflexo das desigualdades e da necessidade urgente de políticas públicas eficazes e contínuas na área da educação.

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