Avanço quântico: computador da Google atinge vantagem verificável
- Gabriela Oliveira
- há 2 dias
- 5 min de leitura

O porquê deste momento ser histórico
A computação quântica já vinha sendo anunciada como a próxima revolução tecnológica — mas agora vemos um salto concreto. A Google, por meio de sua unidade Google Quantum AI, acaba de demonstrar um avanço que pode marcar o início da transição da teoria para a aplicação.
Em outubro de 2025, a empresa publicou que seu chip Willow executou o algoritmo Quantum Echoes com performance 13.000 vezes superior à de um supercomputador clássico equivalente. Além disso, havia sido reportado que no ano anterior (2024) se atingira um estágio crucial: por meio de correção de erros, o chip teve melhora de fidelidade à medida que o número de qubits aumentava, um marco considerado “below-threshold” em termos de erro quântico.
Em resumo:
A velocidade e desempenho ultra elevados (milhares de vezes + rápidos) fazem parte.
Mas o mais importante: o resultado é verificável, ou seja, não é apenas um benchmark inacessível, mas um cálculo cujo resultado pode ser repetido ou conferido.
Isso abre caminho para mudar a conversa: de “quando teremos computação quântica” para “como vamos usar” e “o que muda nos negócios”.
O que é exatamente o que foi alcançado
Para entender melhor, vamos aos detalhes técnicos (em termos acessíveis) do que ocorreu.
Chip Willow & hardware
O Willow é um chip de classe experimental desenvolvido pela Google com qubits supercondutores e circuitos otimizados. O blog da empresa explica que ele tem fidelidades de porta quântica e leitura extremamente altas, o que permite executar cargas de trabalho ainda pouco convencionais. Ele representa um avanço de hardware — não apenas aumentar o número de qubits, mas reduzir erros e operar com alta fidelidade em grande escala.
Algoritmo Quantum Echoes
O algoritmo consiste em uma tarefa de correlação fora da ordem de tempo (OTOC, “Out-of-Time‐Order Correlators”) em que a dinâmica quântica de um sistema é perturbada e “ouvida” por meio de um eco reverso. Ou seja: aplica-se uma sequência de operações quânticas, introduz-se uma perturbação, reinverte-se a sequência, e então mede-se o efeito do “eco” quântico resultante.
O resultado: essa tarefa exigiria anos em um supercomputador clássico e levou horas no chip Willow. Além disso, o resultado pode ser verificado (ou seja, repetido e conferido) — o que até então era um dos obstáculos em demonstrações de “vantagem quântica”.
Vantagem verificável (“verifiable quantum advantage”)
O termo é importante: não basta que um computador quântico seja “mais rápido” — ele precisa entregar resultados que podem ser confiavelmente verificados, para que seja relevante para aplicações. A Google afirma ter dado esse passo.
Correção de erros e fidelidade
No artigo da Nature de 2024, foi destacado que a Google conseguiu demonstrar que, com a escala de qubits, o erro total reduzia — algo tido como essencial para alcançar um computador quântico com “qubit lógico” confiável. Esse avanço permite confiar mais nas medições do sistema, e evita que o barulho ou decoerência devam ser o gargalo.
Por que isso importa para os negócios e para o LinkedIn
Você pode estar se perguntando: “Ok, legal. Mas e daí? O que muda para minha empresa ou para o mundo corporativo?” Aqui vão três grandes implicações.

1. Projeto, design e descoberta acelerados
A promessa que esse tipo de computação traz: simular moléculas, materiais, reações químicas com precisão que computadores clássicos não conseguem — ou demorariam anos para conseguir. A Google destaca que tarefas de análise molecular, aprendizado de hamiltonianos ou espectrometria nuclear magnética (NMR) são plausíveis. Para empresas que investem em P&D, materiais avançados, fármacos ou baterias, esse tipo de salto tecnológico pode significar vantagem competitiva.
2. Agenda de inovação e roadmap tecnológico
Para líderes de tecnologia, inovação ou estratégia, esse anúncio serve como sinal de que “o amanhã” está mais próximo. Talvez não amanhã mesmo, mas o horizonte de 5 anos para ver aplicações reais parece mais plausível agora. Especialistas citam que embora ainda não estejamos em “computação quântica aplicável total”, o caminho está se consolidando. Logo, empresas devem começar a refletir: onde a computação quântica poderia entrar no nosso roadmap? Que habilidades, parcerias ou investimentos precisamos ter agora para não ficar para trás?
3. Impactos em segurança, criptografia e tecnologia da informação
Quando computadores quânticos alcançarem escala prática, temas como criptografia, segurança de dados, algoritmos de otimização, IA e investimentos tecnológicos sofrerão impacto. Já há alertas de que a “criptografia pós-quântica” deve estar no radar. Para profissionais do LinkedIn, isso significa que as competências de amanhã poderão incluir “computação quântica”, “algoritmos quânticos”, “segurança pós-quântica”.
O que ainda falta — e por que não devemos cantar vitória antes da hora
Apesar do grande salto, há alguns “poréns” que merecem ser lembrados para manter a realidade alinhada.
Embora haja vantagem e verificação, ainda não há uma demonstração massiva de aplicação comercial concreta — estamos em “problemas de benchmark” ou “problemas científicos” até então.
A escalabilidade permanece o grande desafio: mesmo com melhorias, chegar a milhões de qubits com fidelidade suficiente e correção de erro plena é tarefa complexa.
O que agora foi executado talvez seja avançado, mas não necessariamente algo que sua empresa pode usar amanhã — será necessário ainda maturação (software, algoritmos, ecossistema, hardware).
O custo, expertise, integração com infraestrutura existente e formação de equipe especializada ainda são barreiras reais.
Sendo realistas: o anúncio valida que a estrada está percorrida e que a computação quântica está saindo do “laboratório obscuro” para “tecnologia de inovação”. Mas “uso de rotina na empresa” ainda será uma questão de anos.
Como você, profissional ou empresa, pode se preparar agora
Dada essa realidade, aqui vão cinco sugestões de ações práticas para ficar alinhado — e possivelmente sair na frente.
Mapear possíveis casos de uso
Revise seus projetos de P&D, materiais, energia, fármacos, otimização logística ou risco financeiro e pergunte: “Se tivéssemos 10-100x mais poder de simulação, o que faríamos diferente?”Liste 2-3 cenários em que a computação quântica (ou futuros híbridos clássico-quântico) poderia oferecer salto.
Aprender o básico e construir competência interna
Embora não precise virar especialista de imediato, entender conceitos como qubit, superposição, emaranhamento, correção de erros, algoritmos quânticos ajuda a interpretar a tecnologia. Cursos, webinars, parcerias acadêmicas ou com fornecedores de tecnologia são válidos.
Avaliar parcerias e ecossistema
Empresas como a Google, IBM, startups quânticas e centros de pesquisa estão ativos. Verificar quem são os players no Brasil ou América Latina, ou considerar aliança com universidade, pode ser uma vantagem.
Acompanhar regulamentações e segurança tecnológica
A era da computação quântica implica também em mudança no paradigma de segurança — por exemplo, quando a quebra de criptografia for um risco real. É prudente monitorar impactos regulatórios, privacidade, compliance.
Planejar para integração futura
Tenha em mente que a adoção não será “plug-and-play” por agora. Pense em como seus sistemas de TI, dados, algoritmos de negócio poderiam se preparar para um mundo híbrido (parte clássico, parte quântico). Isso pode significar modularização, APIs, refinamento de dados, protótipos de simulação.
Em suma
O anúncio da Google de que seu chip Willow, com o algoritmo Quantum Echoes, alcançou uma vantagem quântica verificável e extremamente superior ao clássico (13.000×) é um marco. Ele indica que a computação quântica está transitando de “possível” para “provável” — ou, ao menos, que o prazo de adoção parece estar se encurtando.
Para negócios, tecnologia e inovação, isso representa uma janela de oportunidade: os próximos 2-5 anos podem ser decisivos para construir vantagem competitiva em indústrias que dependerão de simulação de alto nível, materiais avançados ou algoritmos quânticos.
Mas também há que manter a sobriedade: ainda não é hora de substituir todos os sistemas por máquinas quânticas. É hora de preparar, alinhar competências, identificar casos de uso e participar do ecossistema.


